Saturday, February 28, 2004

Espelhos



Espelhos de metal dissimulado

Espelho de acaju que entre a bruma

Do seu rubro crepúsculo esfuma

Esse rosto que olha e é olhado,




Infinitos os vejo, elementais,

Executores de um antigo pacto

Multiplicar o mundo com o acto

Generativo, insones e fatais.




Prolongam este vão mundo incerto

Na sua vertiginosa teia;

Às vezes pela tarde os rodeia

O hálito de alguém que não está morto.




Espia-nos o cristal. Se entre as quatro

Paredes da alcova há um espelho,

Já não estou só. Há outro. Há o reflexo

Que encena n`alba sigiloso teatro


Trechos do poema Espelhos, Borges (1999, p. 213-214)